Sábado pela manhã celebrei a liturgia dominical no presídio feminino Auri Moura Costa com mais de cem recuperandas. Surpreendeu-me o clima contemplativo e a cumplicidade que logo se instaurou. Surpresa maior foi a partilha do evangelho Lc 15,1-31 onde bem três vezes se fala em festa. Veio então espontânea a pergunta: “Que Deus é esse que gosta tanto de festa”? Foi aí que Suely (pouco importa o artigo do Código Penal) falou para todas as companheiras, sem pestanejar: ”Ainda bem que Deus não pensa como a gente”.
Começo a pensar que a novidade destas e das demais parábolas é que Jesus faz mesmo questão de enxergar as coisas e as pessoas do ponto de vista de Deus e não do nosso ponto de vista.
Mas que Deus é esse que faz tanta questão de largar “no deserto”, ao relento, noventa e nove filhos e filhas, só para correr atrás de um punhado de desnaturados? O que Ele estará enxergando de tão bom nos excomungados pela sociedade e pelas igrejas e que nós, os escribas e fariseus de sempre não conseguimos enxergar? De certo, não o pecado. Uma coisa eu sei e afirmo com toda a autoridade da minha terceira idade: “Cada um acha o que procura”. Não estará o nosso bom Deus sempre à procura daquele restinho de imagem sua que tão bem cravou em cada ser humano: seu próprioDNA?
E tem mais: nada de lição de moral, chantagem ou carão no momento do reencontro. Nem tempo de abrir a boca o pai deixou àquele filho mais novo que esbanjou tudo comendo do bem-bom e que só voltou pra casa quando começou a saborear o gosto amargo do pão que o diabo amassou.
“Então, não é mais preciso falar de pecado, se arrepender e mudar de vida?” – foi a pergunta de uma catequista esta manhã, na sacristia, após ouvir minha homilia. Devolvi a pergunta e a convidei a retomar as parábolas e meditá-las novamente ao longo da semana.
Posso ser redundante, mas continuo pensando que "cada um acha só o que procura". E as mulheres do presídio feminino me convenceram ainda mais o quanto o Pai dos céus é diferente de todos nós.
Primeiro é música, é dança, comida e bebida e, sobretudo, é aquele abraço! Aí sim, o clima está criado e quem andava perdido nos caminhos da vida, sentindo o calor do abraço e o gosto da festa nunca mais precisará saborear outras comidas. Pra que falar de pecado, de castigo ou de inferno justamente àqueles que nele já afundaram até o pescoço?
Adoraria saber, finalmente, por onde anda essa tal de “Nova Evangelização”? Por enquanto, só percebo que os templos sagrados, as sacristias e os centros pastorais ainda estão muito longe dos caminhos tortuosos da vida onde muitos se perdem por falta do calor e de um abraço. Esta é a evangelização do meu gosto.
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