“A sociedade clama contra a delinqüência infanto-juvenil, mas não se escandaliza com o imenso contingente de menores que fazem da rua sua escola. Na verdade não seria difícil, sobretudo em vários Estados da Federação, reformular a vida escolar em termos de tempo integral... Nem parece haver falta de recursos, pois estes sobram para outros projetos desenvolvimentistas. De novo, aqui a estrutura social iníqua aplica o mínimo para ter mão de obra futura, e não atende às exigências da pessoa humana.”...
Achei esse trecho entre os poucos alfarrábios que guardo com carinho. Faz parte da publicação: “Subsídios para uma Política Social” da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Era o ano da graça de 1979. A terminologia e o conceito de “projetos desenvolvimentistas” mudaram , sem dúvida. De lá para cá, a realidade também mudou bastante. E foi para pior. Refiro-me à problemática infanto-juvenil.
Enquanto isso, em nome da Copa 2014, as cidades agraciadas com algumas centenas de chutes na jabulani (o que estará cogitando a ADIDAS?), já vivem na embriaguês da dinheirama nunca vista, dando início a um festival de obras de duvidosa prioridade. O marketing oficial se encarregará de vender gato por lebre oferecendo assim, aos incautos turistas, a imagem do País das mil maravilhas, de fazer inveja ao primeiro e aos demais mundos. A não ser que, na mesma proporção orçamentária prevista para o desempenho da Copa 2014, algo ou muito mais seja reservado para que a educação saia da zona de rebaixamento, por enquanto irreversível, terreno fértil para o fogo cruzado do crack e das balas perdidas. É esta a razão que me motivou a tirar do baú o grito dos bispos nos idos de ´79.
Perguntar não ofende. Por onde anda a lucidez e a coerência profética que dava à Igreja, em tempos não muito remotos, autoridade e razão de ser? Desconheço, até hoje algum pronunciamento oficial da CNBB ou de outras Igrejas sobre os impactos sociais da Copa 2014. Se houve, deve ter sido tão pífio a ponto de passar batido. “O vento sopra onde quer” (Jo 3,8) e, pelos vistos, hoje vem com as rajadas de fogo da favela do Alemão e das demais “zonas de rebaixamento” do País da Copa 2014.
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