Quantas cruzes por aí nesta semana santa. Simbólicas e reais também.
“Oremos: Chega de cruzes, meu Deus. Amém!”.
Repeti esta oração por onde andei celebrando, vendo e falando.
Chega de cruzes: nas penitenciárias onde homens e mulheres maldizem a cruz de uma prisão que pouco ou nada contribui para despertar o arrependimento pelas cruzes de suas vítimas.
Chega de cruzes: nas Unidades de Medidas Sócio Educativas onde crianças e adolescentes em conflito com a Lei, em sua maioria marcados por muitas cruzes, não têm por que sentir o remorso pelas dores por eles mesmos infligidas, brincando, a quem quer que seja.
Chega de cruzes: era o grito silencioso dos sobreviventes da pastorais sociais, pela ruas de Fortaleza, do povo de rua no domingo de ramos e na quinta feira santa e de mais de mil crianças carregando centenas de cruzes pelo calçadão da Beira Mar.
Chega de cruzes: grito reprimido mas visível nos olhos embaçados da criança de doze aninhos que estranhava aquilo tudo enquanto, debaixo da marquise, acabava de queimar mais uma pedra maldita.
Chega de cruzes: era o grito silencioso dos sobreviventes da pastorais sociais, pela ruas de Fortaleza, do povo de rua no domingo de ramos e na quinta feira santa e de mais de mil crianças carregando centenas de cruzes pelo calçadão da Beira Mar.
Chega de cruzes: grito reprimido mas visível nos olhos embaçados da criança de doze aninhos que estranhava aquilo tudo enquanto, debaixo da marquise, acabava de queimar mais uma pedra maldita.
Chega de cruzes: longe das encenações, é o grito de tantos enfermos, nas macas jogadas no chão dos corredores superlotados das emergências da saúde pública. Grito de revolta de todo o dia.
Chega de cruzes nas carnes de tantas mães que já sabem do triste e único destino reservado aos filhos viciados no crack: a morte a qualquer hora ou um pouco de cadeia até à execução final.
Tudo isto e muito mais contribui para que, nas vésperas dos meus setenta anos de vida, esteja cada vez mais convencido que a evangelização, hoje tão cantada em versos e prosa, só fará sentido se formos capazes de transformá-la num grande mutirão de gente solidária. Os que continuam esmagados por tantas cruzes e nós, cristãos adultos, feitos Verônicas e Cireneus gritando para Deus e para o mundo inteiro a boa noticia: “CHEGA DE CRUZES”!Não foi isso que o nazareno ensinou quando, do alto da cruz, gritou ao Pai: “Afasta de mim esta cruz”! Mas nela aceitou morrer, na certeza de que nada estaria perdido pois o final seria por conta do Pai.E veio a Páscoa da Ressurreição para abolir todas cruzes.
Chega, portanto, de cruzes: também as cruzes polidas que enfeitam as vias-sacras dos ritos paróquias dentro dos templos ou ao redor de uma igreja matriz, cada vez mais distante dos calvários dos becos da cidade grande. Chega de cruzes: bijuteria barata no peito de quem ainda ousa cantar, no embalo do clero midiático: “Sou católico com muito orgulho”. Os evangélicos, também, que se cuidem!
Chega de cruzes: penduradas nos parlamentos, nos bancos, nos shoppings, nas cúrias, nos tribunais e nos palácios das administrações públicas, crucifixos que pretendem exorcizar tantos Pilatos , Herodes, Césares e Sumos Sacerdotes de plantão, de suas cumplicidades e omissões."Ele fala como quem tem autoridade" - diziam de Jesus - aqueles que não concordavam com ele.
“E ele vai beijar o meu pé?” – cochichou no meu ouvido Letícia, umas das doze mulheres encarceradas que aguardava sua vez. Quem estava lavando os pés no presídio feminino era Dom José Luis, bispo auxiliar.
Ficar com os “crucificados” de tantas lógicas de morte (das igrejas também), talvez seja esse o caminho de volta para que no exercício de nossa autoridade – pessoal e institucional – reencontremos na Cruz do Ressuscitado o único poder capaz de acabar com todas as cruzes que matam.
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