12.07.2011| 01:30
Helena Martins - Jornalista e integrante do Comitê Popular da Copa
A organização da Copa vem mexendo com a imaginação e a vida do povo cearense desde que Fortaleza foi escolhida como uma das sedes do mundial de 2014. Para além da evidente euforia que o evento gera, há muita discussão a ser feita. De imediato, é necessário reafirmar o direito à cidade como norteador das transformações urbanísticas que ocorrerão. Tal direito engloba a defesa da qualidade ambiental, do acesso a transportes, trabalho e segurança, além de formas democráticas de planejamento e governança das cidades, tendo como princípios a sustentabilidade e a justiça social.
Fortaleza tem tudo isso para poucos. Tanto que é uma das 20 cidades mais desiguais do mundo; entre as brasileiras, figura entre as quatro, segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), Estado das Cidades do Mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido, que aponta como uma das causas dessa desigualdade a pressão de grupos de interesses privados na destinação dos recursos públicos. O mesmo problema tem ocorrido na definição das obras da Copa. Embora a cidade possua um déficit habitacional superior a 75 mil domicílios, serão investidos mais de R$ 560 milhões em obras de duplicação de vias e construção de um Veículo Leve sobre Trilhos - equipamento que, seguindo recomendações da Federação Internacional de Futebol (Fifa), uma organização privada, privilegiará a ligação do setor hoteleiro ao Castelão. Ao todo, serão gastos R$ 9,6 bilhões em obras no Ceará. Por isso é fundamental questionar a quem elas servirão.
implosão no Castelão |
Com vistas ao desenvolvimento de mecanismos de monitoramento, estratégias de resistência e publicização de abusos, em 2010 foi constituído, em Fortaleza, o Comitê Popular da Copa, articulação composta por diversos setores da sociedade civil que não aceitam que a cidade continue a ser privilégio daqueles que a veem como negócio. Estamos certos de que esse desassossego, feito pólen ao vento, será levado para outras pessoas, que se somarão às que já optaram por resistir à exclusão e defender que esses investimentos não sejam mais um capítulo da história desta cidade onde as minorias lucram e as maiorias ficam com as migalhas e os prejuízos socioambientais.
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