domingo, 26 de fevereiro de 2012

Bote Fé e a Morte Jovem

Ainda não sei por que, ao ler o artigo do Dr. Mourão no Jornal O POVO de 25 de janeiro último, numa rápida associação de idéias  apesar dos meus quase 71 aninhos, logo veio na minha mente a mobilização do BOTE FÉ que pretende preparar a  juventude católica brasileira para a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013. A Cruz e o ícone de Nossa Senhora já estão peregrinando Brasil afora, parando em  Fortaleza nos três primeiros dias de março próximo. O artigo abaixo não deixa de ser, ao meu ver, uma contribuição para que o BOTE FÉ não passe de mais um mega evento que pouco ou nada vai contribuir para impedir que milhares e milhares de jovens continuem sendo crucificados neste Brasil da Santa Cruz.    
                                                        
 A MORTE JOVEM

A cena tornou-se rotina nos noticiários policiais. Um corpo jogado ao chão crivado de balas. Mais um jovem – entre 14 e 25 anos – usuário de drogas foi morto. Dizem que dois homens numa moto dispararam seis tiros de revólver. Na cara, no pescoço. Na cabeça. Estava concluída a prestação de contas.
Uma mãe aflita vem correndo pelos becos da favela. Em desespero, ela grita: “é meu filho! Oh, meu Deus!” Para a comunidade, uma cena que virou rotina. Não é o primeiro. Nem será o último. Acostumados, os outros garotos, como aquele estirado no chão, apenas riem e fazem graça diante das câmeras. Medo ou alívio?
A polícia, num ritual monótono e formal, trará o rabecão e fará algumas perguntas usuais. A família mais próxima jogará um lençol branco. Talvez do próprio morto.
Mas será que isso é normal? Será que uma vida só vale algumas pedras de crack? Será que traficantes têm o direito de ajustar contas dessa forma? Existe pena de morte no Brasil?
Num primeiro momento o sentimento é de alívio. Deus levou… Para a família, um problema a menos. Ele vinha dando muito trabalho. Torrando a paciência de todos. Para a polícia, uma dor de cabeça a menos. Para o traficante, a imposição implacável de sua lei: “não pagou, morre!” E, na comunidade, um silêncio de medo e aflição.
Eu penso que a conta não pode fechar dessa forma. Se a drogadicção é uma doença, um jovem não pode pagar com a vida a resolução de seu problema.
Falta o Estado. Faltam políticas públicas de assistência social e terapêutica. Excede a exclusão. Furta-se a possibilidade de transcender e sonhar. Imperam os desígnios da morte.
Um corpo jovem estendido, crivado de balas, resultado de uma justiça feita de forma covarde e sem apelo, não pode ter a conivência da sociedade, nem uma indiferença tão explicitada, quase cúmplice.
Nossos jovens não podem viver sem sonhos, sem projetos, sem educação, sem futuro. Morrendo à míngua. Esse comportamento não pode tornar-se comum, normal. Alguma coisa precisa ser feita. E já!


Antonio Mourão Cavalcante, médico e antropólogo. Professor Universitário.    

 ... eu também boto fé e muita,
por isso voltarei ao assunto nos próximos dias...

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