MST critica a nova estratégia do governo
para o campo
Agência O Globo
A declaração do
ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sobre a
favelização das propriedades desapropriadas para a reforma agrária só aumentou
a tensão entre o governo federal e o movimento sem-terra.
Um dos coordenadores
nacionais do MST, Alexandre Conceição afirmou que o governo de Dilma Rousseff
está “iludido com o agronegócio”. Para ele, a avaliação feita por Carvalho não
passa de um reconhecimento de que o governo não apoia os assentados. Segundo
Conceição, sem investimento do Estado não há como desenvolver a agricultura
familiar no país. “A presidente está iludida com o agronegócio. Acha que
resolveu o problema da agricultura. Mas há problemas sérios a serem discutidos,
como a desnacionalização das terras e a dominação da agricultura por empresas
transnacionais”, diz Conceição.
O secretário de
Política Agrária da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(Contag), Willian Clementino, diz que, se os assentamentos são precários, a
culpa é do próprio governo. “O termo favela rural é extremamente pejorativo e
irresponsável”, afirma ele. Segundo Clementino, os assentamentos estão longe de
serem favelas porque, ao ser dono da terra, o trabalhador deixa de depender de
programas sociais se tiver acesso a assistência técnica e crédito de produção.
Até no PT a declaração
de Carvalho provocou críticas. Qualificando de “inadequada” a comparação do
ministro, o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), líder do MST na Bahia,
disse que o freio que Dilma deu na reforma agrária “é o grande erro do governo
na área”. “O ponto central é o crédito agrícola? A criação de escolas e postos
de saúde nos assentamentos? Claro que não. O essencial é a terra. Isso é
básico. A reforma agrária só tem sentido se houver terra para os camponeses”,
afirma Assunção, ao pedir a retomada das desapropriações.
Porém, há quem defenda
o novo foco da reforma agrária. O professor José Maria Silveira, do Núcleo
Interno de Estudos Agrícolas do Instituto de Economia da Unicamp, afirma que o
governo enfrenta o problema da valorização da terra, motivada pela
rentabilidade cada vez maior da agricultura. Ele lembra que a maioria dos
assentamentos está no Norte e no Nordeste, onde a má qualidade do solo e do
clima dificultam o cultivo. Para Silveira, o governo está certo ao conter a
criação de assentamentos e deve dar ênfase em adotar programas de
desenvolvimento agrícola para os assentamentos já existentes.
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