quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A Revolução de papa Francisco
"Espero que não o matem", disse o correspondente do jornal espanhol El Pais no Brasil, Juan Arias, referindo-se ao papa Francisco e a revolução que ele está provocando no Vaticano com o seu jeito simples de ser. O papa quer uma igreja voltada aos pobres.

A reportagem é de Edelberto Behs e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação - ALC, 15-10-2013.

"Para mim é como estar em outro planeta. O papa Francisco está vivendo como no tempo de Jesus. Conheci sete papas, e papas são como imperadores. A figura de Jesus tinha desaparecido do Vaticano. O papa é um chefe de Estado. Francisco está acabando com tudo isso", disse Arias, um ex padre que largou a batina e foi ser jornalista.
Conseguir uma audiência com um papa era uma burocracia e exercício de paciência. Arias esperou três meses para se encontrar com Pio XII (1939-1958). Recorda-se das visitas que o papa João XXIII (1958-1963) fazia às congregações aos domingos, onde falava e pedia aos jornalistas para reportarem porque temia que o jornal oficial do Vaticano, L´Osservatore Romano, certamente usaria o filtro teológico para depurar sua fala.
O repórter do El Pais acompanhou o papa João Paulo II (1978-2005) em cem viagens. Sempre procurou manter boas fontes entre as freiras que cuidavam dos pontífices no palácio vaticano e foi por esse motivo que o El Pais publicou como o papa João Paulo I (26 de agosto de 1978 - 28 de setembro de 1978), que ficou apenas 32 dias no papado, foi encontrado morto: sentado na cama rodeado de papéis das discussões que tivera com os cardeais no dia anterior,
João Paulo I queria morar num bairro operário da periferia de Roma. Ao anunciar sua decisão aos cardeais, "ouviram-se os gritos deles" que se opuseram radicalmente à proposta. A causa da morte do papa continua uma incógnita.

Francisco foi mais inteligente e não esperou nenhum dia para colocar sua marca no Vaticano, analisou Arias. "Ele não entrou na engrenagem, foi rápido". O cardeal argentino veio a Roma com um par de sapatos, dispensou morar no palácio, do balcão do Vaticano que dá para a praça São Pedro ele pediu, na sua primeira manifestação pública como papa, a benção do povo.
No hotel do Vaticano, moradia escolhida por Francisco, vem gente de todo o mundo que dificilmente falariam com um papa. No hotel isso é possível. "Quando Francisco assumiu o papado, a Igreja Católica estava no pior momento entre muitos séculos, mergulhada em escândalos, pedofilia, intrigas internas, tanto que Bento XVI teve que renunciar", avaliou Arias.
Hoje, prosseguiu o correspondente do El País, o momento da igreja é completamente diferente. "Francisco é um jesuíta e jesuítas são bem preparados. Ele viu que o único jeito de reconquistar a credibilidade é acabar com a velha igreja e voltar a Jerusalém, a Nazaré, a origem do cristianismo", disse o jornalista espanhol. Por isso o papa quer uma igreja dos pobres, agregou.
Ele admitiu, contudo, que não será fácil para Francisco promover as mudanças na cúria romana, organismo que governa o Vaticano. "Sei que a parte que está perdendo o poder no Vaticano é muito forte, e vai ser muito difícil para ele (Francisco)", admoestou. Da cúria, fala-se que ela é habitada por "víboras e corvos", lembrou o jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S, Paulo.

O mais importante que o papa pode fazer é a renovação dos bispos e dos cardeais. Se tiver tempo para mudar a metade dos cardeais, a Igreja Católica vai se transformar completamente. O bispo de Roma "já começou a colocar nos postos de responsabilidade pessoas diferentes", apontou Arias.
Celibato e sacerdócio feminino são temas que Francisco deverá levar ao Sínodo Extraordinário. Mas a igreja nunca vai aceitar o aborto. "Isso está fora de discussão, pois ela sempre defenderá o princípio de estar a favor da vida",vaticinou o jornalista do El Pais.
Num mundo carente de estadistas, Francisco começa a aparecer como tal. Ele está trazendo para a agenda mundial temas como pobreza, miséria, injustiça e fome. De cada nove pessoas, mencionou Arias, uma passa fome. Se a igreja não tem nada a dizer a respeito desse escândalo, não será uma seguidora da vontade de Jesus.
"Francisco defende um câmbio radical. O papa não quer uma igreja que fale dos pobres, mas que seja pobre. E essa é a verdadeira revolução que ele está promovendo", afirmou Arias.
Embora tenha formação católica, Clóvis Rossi é mais cético e anda na senda de são Tomé ao comentar as ações concretas que o papa assumirá no seu pontificado. "Prefiro ver para crer", disse.

Rossi e Arias participaram, no domingo, 13, do 8º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que reúne nas dependências da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, de 12 a 15 de outubro, 1.300 jornalistas, estudantes, professores e pesquisadores de 87 países. Os dois jornalistas trataram do tema "Cobertura do Vaticano: um novo papa

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