quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

CONVOCADOS À ESPERANÇA

Recebi esta mensagem do meu confrade Xavier e ofereço aos meus blogueiros

Não é raro ouvir dizer: “O mundo está perdido!”, “Não há mais nada para fazer!”. É muito fácil desanimar diante das adversidades da vida. É próprio da cultura da violência e da morte espalhar medo e desespero para obrigar o ser humano se render e se dobrar à lógica da resignação.

A pior violência que podem praticar contra o ser humano é roubar sua utopia e matar a sua esperança.

É hora de reagir. Mesmo se a situação é difícil e apesar de todos os desafios que nos cercam não pode haver espaço para o pânico, o desespero, a acomodação e a resignação.
A Palavra de Deus nos convoca à esperança. Diante do quadro assustador das consequências das chuvas torrenciais, da violência, da dor, da doença, da injustiça e da insegurança, temos como primeira missão testemunhar e alimentar a esperança: “Sem vacilar, mantenhamos a profissão da nossa esperança, pois aquele que fez a promessa, é fiel” (Hb 9,23).

Qual é o fundamento de nossa esperança? A resposta está num trecho do Livro do Apocalipse: “Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: «Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.»

Eis o manifesto da esperança.

Deus não deixa dúvidas. A história da humanidade não caminha para o nada ou para a destruição. Se fosse assim tudo seria absurdo. Ela marcha rumo à plenitude.
Deus não criou o ser humano para sofrer e morrer. “Deus não fez a morte nem tem prazer em destruir os viventes. Tudo criou para que subsista; são salutares as criaturas do mundo: nelas não há veneno de morte, e o Hades não reina sobre a terra” (Sb 1,13-14)
Os sofrimentos da vida presente não têm comparação alguma com a glória futura que se manifestará em nós. (Rm 8,18-27)
A história tem como desfecho final o Reino de Deus. A visão da Nova Jerusalém, descrita no livro do Apocalipse, aponta uma certeza: a violência, a dor e as injustiças não têm a última palavra. Esta pertence a Deus. Seu projeto de vida prevalecerá sobre a lógica da morte. A humanidade, resgatada por Deus, vai viver para sempre.
Portanto, a nossa esperança tem como fundamento as promessas de Deus e se respalda na palavra dada pelo próprio Jesus: “Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo”. (Jo 16,33);

Esperar em Deus não significa cruzar os braços e aguardar o milagre cair do Céu.

A esperança não é um ato de covardia, uma declaração de rendição ou um atestado de incompetência humana. Não tem nada a ver com o simples otimismo, com a ingenuidade, a inércia, o comodismo ou o fatalismo consolatório, ao contrário, é o oposto da evasão da realidade.
A esperança é a mais exigente e revolucionária experiência do coração humano. É uma qualidade, uma determinação heróica do cristão militante. É o compromisso de quem está disposto a arriscar a própria pele por algo que vale a pena de verdade.
É a coragem de se envolver, de mergulhar na realidade, de dar a volta por cima e de recomeçar tudo de novo confiando na Palavra de Deus:“Senhor, tentamos a noite toda, e não pescamos nada. Mas em atenção à Tua Palavra, vou lançar as redes”. (Lc 5,5).

A esperança é um ato de coragem.

É a capacidade de enxergar para além das aparências. Tem a índole da ‘luta”, porque nos põe com determinação ao lado da Vida para combater a morte, ao lado da solidariedade para acabar com a injustiça e ao lado do bem para vencer o mal. É a força subversiva dos pequeninos e dos pobres de espírito, os “anawins” como Maria de Nazaré,  que mesmo não contando com o poder econômico, o poder de fogo e a força bruta, mas somente com a força de suas convicções, a pureza de suas intenções e a ética de suas atitudes são capazes de derrubar os poderosos dos tronos e enaltecer os humildes,  de mandar os ricos para casa de mãos vazias para que sobre comida para os famintos, de superar as adversidades da vida com a lógica da solidariedade. .

A esperança é a crença na possibilidade da mudança e uma convocação à transformação, pois aponta que o novo é possível, só que deve acontecer desde já a partir de cada um.

A esperança é a virtude dos ousados, “daqueles que permanecem em pé”, que não perdem a postura, que não se vendem, que não se satisfazem com qualquer coisa, não entregam os pontos, não desistem, não se contentam com a mediocridade, não buscam o mínimo indispensável, mas ousam, têm coragem suficiente para embarcar e navegar para águas mais profundas, na busca daquilo que vale a pena de verdade: “Para mim o viver é Cristo” (Fl 1,21).

A esperança é uma confissão pública de indignação com aquilo que não presta, um manifesto de resistência a todas as adversidades, um ato de reação não violenta aos mecanismos e às estruturas que colocam em risco o valor da vida, um grito de convocação a construir a civilização do amor, um apelo à transformação do mundo. É a irrupção do novo “aqui e agora”.

A esperança custa caro, mas vale a pena. É com ela, como companheira inseparável, que queremos encarar o novo ano.
Feliz 2014.

Pe. Saverio Paolillo (Pe. Xavier)
Missionário Comboniano
Pastoral do Menor e Carcerária

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