Brasil
pós-ditadura
Frei
Betto
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02 de Abril de 2014
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Faz 50
anos que o golpe militar, respaldado pela Casa Branca, implantou uma ditadura
no Brasil. E 29 que os generais voltaram às casernas. E agora, José, vivemos
uma verdadeira democracia?
Devagar
com o andor, pois o santo é de barro. Cracia, sim; mas demo...
Os generais
deixaram o poder. Não de ter poder. Falam grosso nos quartéis e ainda têm a
petulância de batizar turmas de formandos de Agulhas Negras com o nome de
“Emílio Garrastazu Médici”, o mais sanguinário de todos os ditadores.
Comissões
da Verdade trabalham arduamente para apurar os crimes da ditadura. Como não
são também da Justiça, atuam manietadas. Não têm poder nem projeto de punir
ninguém. “Homem mau dorme bem”, intitula-se um filme de Akira Kurosawa. O que
dá às Forças Armadas a prerrogativa de não prestar satisfações à nação e
manter sob sigilo os arquivos do regime militar, como fazem com os documentos
da Guerra do Paraguai. Mas ninguém escapa de prestar contas à história...
Passadas
quase três décadas do fim da ditadura, o Brasil nem sacudiu a poeira nem deu
a volta por cima. Quem é hoje a figura majestática do PMDB, o maior partido
do Brasil e principal aliado do governo petista? José Sarney. Quem era o
presidente da Arena, partido de respaldo à ditadura e aos crimes por ela
cometidos? José Sarney.
Nossas
estruturas ainda conservam fortes resquícios dos 21 anos (1964-1985) de
atrocidades. Em especial na política, que mantém o mesmo número de senadores
por estado, malgrado a desproporção populacional, e aprova o financiamento de
campanhas eleitorais por empreiteiras, bancos e empresas. Sei que nem tudo é
como dantes – temos pluripartidarismo e a Constituição de 1988 –, mas ainda
trafegamos à sombra do quartel de Abrantes.
Houve
mudanças! O impossível aconteceu: Lula eleito presidente e o PT há 11 anos no
poder. Lá chegou graças aos movimentos sociais que minaram os alicerces da
ditadura. Como já disse, o poder, a cracia, ganhou novos protagonistas.
Porém, a demo... o povo ficou de fora!
Nossa
democracia ainda é predominantemente delegativa (delega-se, pelo voto, poder
ao eleito); tendenciosamente representativa (vide os lobbies do agronegócio e
dos grandes meios de comunicação); e nada participativa.
A
socialdemocracia chegou ao Brasil, paradoxalmente, pelas mãos do PT, e não do
PSDB. A pobreza extrema sofreu significativa redução; a escolaridade
ampliou-se; a saúde socorreu-se na importação de médicos estrangeiros. No
Nordeste, trocou-se o jegue pela moto. A inflação ficou sob controle; o
salário mínimo teve crescimento expressivo; a linha branca, desonerada e
facilitada pelo crédito, encheu os domicílios populares de geladeiras, fogões
e máquinas de lavar.
Quem
nunca comeu melado... Cadê os benefícios sociais? Transporte coletivo
precário e congestionado; saúde pública infeccionada por falta de recursos; educação
sem qualidade; segurança despreparada e insuficiente.
Em
11 anos de governo petista, nenhuma reforma de estruturas. Nem a agrária, nem
a política, nem a tributária. Como fazia a ditadura, os megaprojetos
atropelam as exigências ambientais (transposição do São Francisco;
hidrelétricas como Belo Monte; Copa), enquanto a Amazônia perde o fôlego
asfixiada por lavouras movidas a agrotóxicos e ampliação dos pastos
abertos a serra elétrica.
Eis
que, de repente, o Brasil se dá conta de que não está deitado em berço
esplêndido. E o gigante adormecido acorda... nas manifestações de rua!
Se
os 11 anos de governo petista promoveram considerável inclusão econômica, falta
propiciar a participação política. Ao contrário, temos um governo despolitizante,
que acredita que só de pão vive o homem... Nada estranho que haja arruaças em
manifestações.
Frei
Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura
militar brasileira” (Rocco), entre outros livros.
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Devaneio deste blogueiro...
A roubalheira não foi o PT que inventou, é verdade, mas...nem um pecadinho com cheiro de mensalão que mereça ser mencionado ?
Que é isso companheiro?!
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