terça-feira, 10 de março de 2015

Não se conformem 
com uma teologia de gabinete”

“Não se conformem com uma teologia de gabinete. O lugar das reflexões de vocês são as fronteiras. E não caiam na tentação de pintá-las, perfumá-las, ajustá-las um pouco e domesticá-las”. O Papa Francisco marcou o caminho para o estudo da teologia, clamando para “viver na fronteira” e prevenindo contra “uma teologia que se esgota na disputa acadêmica ou que contempla a humanidade desde um castelo de vidro”.



A reportagem é de Jesús Bastante e publicada no sítio espanhol Religión Digital
09-03-2015. A tradução é de André Langer.

Em uma carta escrita ao cardeal-arcebispo de Buenos Aires, Mario Poli, por ocasião do centenário da Pontifícia Universidade Católica Argentina (UCA), o Papa afirma que “o aniversário coincide com os 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, que foi uma atualização, uma releitura do Evangelho na perspectiva da cultura contemporânea”, o que produziu “um movimento irreversível de renovação que vem do Evangelho. E agora é preciso seguir em frente”.

“Mas, como seguir em frente?”, pergunta-se Bergoglio, que insiste em que “ensinar e estudar teologia significa viver em uma fronteira, essa na qual o Evangelho encontra as necessidades das pessoas às quais se faz o anúncio, de maneira compreensível e significativa”.

“Devemos precaver-nos de uma teologia que se esgota na disputa acadêmica ou que contempla a humanidade desde um castelo de vidro. Aprende-se para viver: teologia e santidade são um binômio inseparável”, constata o Papa, que pede que a teologia, junto com o respeito à Revelação e à Tradição, saiba “acompanhar os processos culturais e sociais, especialmente as transições difíceis”.

“Atualmente – acrescenta a carta –, a teologia também deve encarregar-se dos conflitos: não apenas daqueles que experimentamos dentro da Igreja, mas também daqueles que afetam todo o mundo e que são vividos nas ruas da América Latina”.

“Também os bons teólogos, como os bons pastores, cheiram a povo e a rua e, com sua reflexão, derramam unguento e vinho nas feridas dos homens”, assinala o Pontífice, que pede que a teologia seja “expressão de uma Igreja que é ‘hospital de campanha’, que vive sua missão de salvação e cura no mundo”, pois “a misericórdia não é apenas uma atitude pastoral, mas a substância mesma do Evangelho de Jesus”.

“Sem misericórdia, a nossa teologia, o nosso direito, a nossa pastoral, correm o risco de cair na mesquinharia burocrática ou na ideologia, que, por sua própria natureza, quer domesticar o mistério. Compreender a teologia é compreender a Deus, que é Amor”, assinala Bergoglio, que alerta contra o “teólogo ‘de museu’, que acumula dados e informações sobre a Revelação, mas que não sabe muito bem o que fazer com isso. O teólogo não deve ser alguém que vê a história da sacada”.

Ao contrário, o teólogo “deve ser uma pessoa capaz de construir em torno de si a humanidade, de transmitir a divina verdade cristã em uma dimensão verdadeiramente humana, e não um intelectual sem talento, um moralista sem bondade ou um burocrata do sagrado”.

Leia a íntegra da carta de Francisco: /http://www.ihu.unisinos.br/

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