sábado, 12 de dezembro de 2015

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

Ao apagar das luzes deste dia 12 de dezembro consagrado à Nossa Senhora de Guadalupe -padroeira da América Latina - OREMOS com a prece do saudoso Dom Helder Câmara. Tempos difíceis para o Brasil e a América Latina.

Maria da Libertação

Virá o dia em que todos veremos nesta terra reinar a liberdade
Maria é a escolhida do Pai para realizar o seu plano de revelação do Reino à humanidade. Através dela, Jesus chega ao mundo. Ao escolher uma mulher simples, pequena moradora de uma cidade do interior, Deus já começa a anunciar a sua preferência pelos mais humildes.
Serva perfeita, Maria faz da sua liberdade a verdadeira liberdade: aquela que é tão livre que permite-se moldar pelo Senhor. Embora na Anunciação suas palavras denunciem questionamentos, não se encontra nelas o medo característico daqueles que sabem do que terão que abrir mão para que, através de si, Deus se revele.
Mais adiante, irá anunciar profeticamente o Deus libertador no canto do Magnificat. E irá acompanhar o Deus-Homem em sua vida terrena. Estará presente na ação pública de Jesus e aos pés da cruz mais uma vez entrega seu filho ao Pai, sabedora de que a liberdade de Deus só é plena por ser capaz de respeitar a liberdade do homem.
Maria hoje continua a nos revelar a libertação de seu povo. Mãe amada, é o esteio dos homens e mulheres, cansados de tentar entender o caminho opressor que a humanidade escolheu. Por isso, aquela revelação do Deus libertador feita à Isabel é ainda hoje atual. E, por isso, também, é que homens e mulheres de nosso tempo, animados e irmanados na experiência daquela mulher, continuam a revelar profeticamente a libertação do povo de Deus.
Para celebrar a certeza de um Deus libertador, escolhemos dois poemas, escritos por dois profetas de nosso tempo, D. Hélder Câmara e D. Pedro Casaldáliga, que através da Maria nos mostram a face amorosa do Pai.
Invocação à Mariama
Mariama, Nossa Senhora, mãe de Cristo e Mãe dos homens!
Mariama, Mãe dos homens de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da Terra.
Pede ao teu filho que esta festa não termine aqui, a marcha final vai ser linda de viver.
Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho não fique em palavra, não fique em aplauso.
Não basta pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo de hoje sem ligar ao que disserem.
Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão. É Evangelho de Cristo, Mariama.
Claro que seremos intolerados.
Mariama, Mãe querida, problema de negro acaba se ligando com todos os grande problemas humanos.
Com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e opressões.
Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é Paz. Basta de injustiça!
Basta de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra onde morar.
Basta de alguns tendo que vomitar para comer mais e 50 milhões morrendo de fome num só ano.
Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia.
Mariama, Senhora Nossa, Mãe querida, nem precisa ir tão longe, como no teu hino. Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e o pobres de mãos cheias. Nem pobre nem rico.
Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã. Basta de escravos. Um mundo sem senhor e sem escravos. Um mundo de irmãos.
De irmãos não só de nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama.


D. Hélder Câmara

(Extraído do texto da Missa dos Quilombos)

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