quarta-feira, 10 de agosto de 2011

63% das vítimas da violência em Fortaleza são jovens

Diário Nordeste
10 de agosto de 2011


IVNA GIRÃO
Repórter


Cartografia da Criminalidade e Violência mapeou todos os bairros da Capital entre os anos de 2007 e 2009. Pelo andar da carruagem, de 2009 para cá, a projeção deverá ser ainda mais alarmante. Para reverter este quadro, resta conhecer o tamanho da fatia do bolo das Políticas Públicas reservado às Regionais de maior vulnerabilidade. Sobrarão algumas migalhas depois de repartir o bolo das "Políticas da Copa 2014"?



Mais de 2.300 homicídios, cerca de 74.800 roubos, além de 16.900 casos de lesão corporal em apenas três anos na Capital. Os números parecem de uma cidade que vive em permanente guerra, mas são dados da realidade da violência na Capital cearense, apresentados ontem pela Fundação da Universidade Estadual do Ceará (Funece).
Um dado chamou mais atenção dos pesquisadores: 63% das vítimas de homicídio são jovens, todos entre 15 e 29 anos. Para a pesquisadora Rosemary de Oliveira, do Mestrado em Políticas Públicas e Sociedade, o perfil dos mais vulneráveis ainda tem sido o mesmo, são jovens, solteiros, em idade produtiva, negros e com baixa renda e escolaridade. "O principal desafio é tentar reduzir os índices. Temos agora uma real demonstração de como as atuais políticas não estão conseguindo resolver todos os conflitos".
A cartografia foi realizada pelo Laboratório de Direitos Humanos, Cidadania e Ética, Laboratórios de Estudo da Violência e Laboratório de Estudos da Conflitualidade e Violência.

Regionais

Conforme o estudo, as secretaria Executivas Regionais (SERs) V e VI são as que possuem piores índices de violência. A primeira contabilizou 641 homicídios e outras 551 mortes violentas. Em seguida a SER VI, com 615 homicídios e 1.185 mortes violentas. "A maioria destes assassinatos foi com arma de fogo. Além do tráfico de drogas, estamos tendo que combater também a venda irregular destes instrumentos", comenta.

A "Cartografia da Criminalidade" mapeou os bairros de Fortaleza entre os anos de 2007 e 2009 e tem o objetivo de monitorar as estatísticas, avaliar a atuação dos programas de segurança, principalmente o Ronda do Quarteirão e o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).

O estudo usou as informações cedidas pela Coordenadoria de Medicina Legal (Comel), da Perícia Forense, pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Guarda Municipal e Defesa Civil de Fortaleza. Entretanto, a cartografia foi além dos já tradicionais vetores da criminalidade, afirma a professora Glaucíria Mota, responsável pela pesquisa.

"Olhamos também outros fatores como a falta de serviços básicos como saúde, educação e lazer. Reunimos tudo isto para ajudar o governo a produzir conhecimento sobre o assunto".

Para Glaucíria, três questionamentos podem ser feitos a partir dos índices expostos: sobre a atuação dos policiais militares, o fenômeno das pessoas que querem fazer justiça com as próprias mãos e o sucesso ou não das ações governamentais.

O pesquisador do LEV, César Barreira, afirmou que o estudo é inédito no Ceará e aponta para uma visão mais crítica e ampliada dos gestores sobre o crescimentos da criminalidade e consolidação dos estigmas. "Podemos perceber uma certa redução nos casos de furtos, por exemplo, quando o Ronda do Quarteirão entrou em vigor, mas logo os índices voltaram a subir com a diminuição da presença dos efetivos", afirma.

Na SER I, nos bairros de Parangaba, Fátima, Montese e Benfica, por exemplo, houve uma queda. Em 2008, foram 4.103 furtos, em 2009 caiu para 3.611. Entretanto, houve aumento de roubos nos bairros Damas e Jardim América, de 310 em 2008 para 398 em 2009. "Apesar de tudo, existe uma certa paridade geográfica. A média de roubos nas regionais ficou entre 12 e 14 mil durante os anos citados", comenta.

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