sábado, 31 de março de 2012

semana santa

  descendo.. e comece pelo primeiro ato.

    (último ato)               

                       Um caminho que se eterniza...
    


3.1 Fica evidente que Jesus é o autor principal da Paixão. Porém, basta de pensar fantasias, dizendo que ele sofreu mais do que todos os demais. A história no mundo está cheia de mulheres, de homens e de crianças que foram vítimas, torturados e mortos injustamente. Por outro lado, o que a história teológica de Jesus nos ensina é que a sua paixão, seus sofrimentos e a sua morte nos fazem tomar consciência que, através de Jesus, Deus quis se solidarizar conosco, com as nossas paixões, com os nossos sofrimentos e mortes. Sofrendo a sua paixão, Jesus representa todos aqueles e aquelas que, na nossa humanidade, são crucificados de uma maneira ou de outra, pelo mal, à prova, à doença, à fraqueza, à brutalidade, à solidão e à injustiça. Todas aquelas e todos aqueles que são vítimas do abandono, da calúnia ou da sentença injusta, da tortura psíquica ou moral... Todas essas pessoas podem se reconhecer em Jesus Cristo: “Fui morto, diz São Paulo, na cruz com Cristo” (Gal 2,19). Isso quer dizer que ele está perto de nós nos nossos caminhos de cruz. Nossas lutas são a imagem do seu combate contra o mal e a injustiça. E é por isso que nós devemos ir até o fim, sem compromisso, se quisermos ser semelhantes a ele. Vamos precisar a vida toda para chegar a isso; é melhor começar desde já. Na espera, nós podemos nos situar também em relação aos outros autores do drama, apresentados por São Marcos e que eu enumerei antes...

3.2. É difícil para nós olharmos de longe para estes outros autores do drama, como se não tivéssemos nada em comum com eles: uma das últimas refeições de Jesus na casa de Simão o leproso, isto é, um excluído... e, ao longo da comida, uma mulher, sem nome, vem ungir Jesus antes da sua morte; ela vem perfumar a cabeça daquele que seria coroado de espinhos (Mc 14,3). Essa mulher é criticada severamente por uma questão de dinheiro (Mc 14,4-5). Porém Jesus diz: “por toda a parte, onde a Boa Notícia for pregada, também contarão o que ela fez, e ela será lembrada” (Mc 14,9). Todos os excluídos de hoje, da nossa sociedade e da nossa Igreja, podem se reconhecer em Simão o leproso, ou nesta mulher sem nome que tem um lugar privilegiado no coração do Cristo da Páscoa. Eles são os escolhidos de Deus. Não devemos esquecer-nos disso... E os outros agora: Judas nos lembra as nossas traições na amizade, no amor, com as palavras que falamos. Pedro nos leva para as nossas negações e aos nossos abandonos, quando nos achamos melhores do que os outros. Os discípulos adormecidos, depois fugindo, será que eles não são o reflexo dos momentos em que ficamos dormidos e das nossas faltas de coragem quando temos que nos expor e testemunhar? Será que Pilatos não evoca as nossas negligências diante de Deus e diante dos homens quando os nossos interesses pessoais ficam antes da justiça e da verdade?

Pelo contrário, outros atos da Paixão dão prova da coragem e da fé: Simão de Cirene, que levou a cruz ao lado do Senhor; ele encarna os acompanhamentos fraternais que nós fazemos das pessoas que sofrem ou que são excluídas. Esse homem vestido com um lençol é, sem dúvida, o próprio Marcos que, como Alfred Hitchcock, entra na sua própria narrativa para dá-lhe ainda mais credibilidade; é este mesmo jovem que encontramos na manhã da Páscoa, sentado no túmulo, desta vez vestido com uma roupa branca, a roupa da Ressurreição. Esse jovem é o próprio Jesus, desvestido para expressar a morte, mas ele é também o Cristo vestido de branco para expressar a Ressurreição. Ele representa também todos os cristãos que aceitam ser desvestidos, isto é, despojado de si mesmos, da sua própria vida, para revestir-se do Cristo Ressuscitado. O Centurião romano que rende homenagem ao Crucificado, nós o acompanhamos quando testemunhamos a nossa esperança cristã. Poderíamos continuar com todas as personagens da narrativa... Em quais nos reconhecemos?

A Paixão de Cristo continua ainda hoje, sob nossos olhos, da mesma forma que a sua Ressurreição... Qual é o papel que nós temos? Podemos ter a impressão de que os nossos caminhos de cruz se eternizam... É verdade! Mas não esqueçamos que eles desembocam necessariamente sob o sol da manhã da Páscoa; caso contrário as nossas cruzes são inúteis e os nossos caminhos não nos conduzem a lugar nenhum...  


             
                          Boa Semana Santa!

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