sábado, 31 de março de 2012

semana santa

        ( 2º ato ) 

                          Um caminho que se eterniza...
    

 1. Visto que a morte e a ressurreição de Jesus são inseparáveis como evento fundador da fé cristã, certamente devemos entrar nessa contradição, nesse paradoxo da fé em que a vida e a morte se superpõem continuamente; elas são sempre parte da nossa realidade humana: nascemos e morremos. A natureza testemunha isso sem cessar. A vida e a morte são dois lados de uma mesma realidade: a vida abre a porta da morte e a morte chama à vida.  



2. Outro paradoxo da festa de hoje merece ser sublinhado: é essa mesma multidão que por vezes aclama (Mc 11,9-10) e que também depois condena (Mc 15,13-14). Mais uma vez, isso faz parte da nossa realidade humana. A multidão é sempre versátil. Basta uma liderança para manipulá-la em qualquer sentido, no melhor ou no pior. Os humanos que compõem a multidão são facilmente influenciáveis por elementos e situações que, às vezes, lhes fazem renegar a si próprios: nas instituições, nas empresas ou nas fábricas, vemos frequentemente situações injustas flagrantes... Quantas pessoas vão aceitar se arriscar para denunciá-las? O medo se instala rapidamente: o medo de perder o emprego, o medo de ser rejeitado, o medo de ser isolado, o medo de não poder ter acesso a um lugar superior, o medo de ter que brigar em nome da justiça, o medo de ter medo... É triste! Mas a maioria das pessoas é assim. Eu mesmo experimentei isso mais de uma vez. É, portanto, essa maioria que compõe a multidão, isto é, as mulheres e os homens aos que dá para lhes fazer qualquer coisa...

3. Relendo a Paixão de Marcos, onde o evangelista nos apresenta um Jesus humano e um homem seguro de si, eu creio que seria útil nos situarmos em relação às numerosas personagens que integram sua narrativa: sumos sacerdotes, escribas e anciãos, uma mulher de Betânia na casa de Simão o leproso, Judas Iscariotes o traidor, os dois discípulos e o homem com o cântaro de água, os Doze com Pedro seu porta-voz, os dois irmãos Tiago e João, uma tropa armada de espadas e de paus, servidores do sumo sacerdote, sendo que um deles perdeu a orelha, Caifás e as falsas testemunhas, os serventes, Pilatos, a multidão, Barrabás, os soldados, Simão de Cirene, pai de Alexandro e de Rufo, os transeuntes, os anônimos no momento da crucifixão, as mulheres que olhavam, entre elas: Maria de Magdala, Maria, a mãe de José, o centurião romano, José de Arimateia, e esse jovem vestido com um lençol que se escapou nu... Há muita gente e todas essas pessoas nos dizem algo do que nós somos.


                                                                                                                          (continua)

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