quarta-feira, 2 de outubro de 2013

MEMÓRIA DE 21 ANOS DO MASSACRE DO CARANDIRU
DIA PELO FIM DOS MASSACRES!

da REDE 02 de Outubro

Há exatos 21 anos, após uma pequena desavença entre presidiários do pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru se transformar em uma rebelião desprovida de viés reivindicativo ou de fuga, cerca de três centenas de policiais militares invadiram a Cada de Detenção do Carandiru e exterminaram, a sangue frio, ao menos 111 homens desarmados e rendidos.
Mais de duas décadas depois, a antiga Casa de Detenção foi implodida e, no lugar onde jovens pobres, quase sempre negros, foram maltratados, torturados e executados durante décadas, foi erigido o sugestivo Parque da Juventude.  A edificação de um parque para a juventude no lugar de uma unidade de aprisionamento da juventude não significou, no entanto, qualquer alteração estrutural na política criminal do Estado.
Após todos esses anos, parte dos policiais foi condenada, ainda de forma não definitiva, mas os mandantes do massacre, Fleury e Pedro Campos, seguem intocáveis, como se ordenar uma carnificina fosse dever de ofício...


Para agravar o quadro, o sistema penal que tarda a responsabilizar os policiais envolvidos e livra os mandantes não apenas do Massacre do Carandiru, mas também de todos os demais massacres da nossa história, é o mesmo que serve de moinho de massacrar pobres, enviando, cotidianamente, centenas de jovens pretos e pobres para tentarem sobreviver às condições degradantes do cárcere e aos assédios constantes de agentes públicos, durante e após o cumprimento da pena.
Desde o Massacre do Carandiru, nos dois lados dos muros, os massacres contra a juventude negra só fizeram crescer.
Muro adentro, a população carcerária cresceu mais de 300% desde o Massacre do Carandiru contra aproximadamente 30% de crescimento da população em geral. Hoje são quase 600 mil pessoas presas em celas superlotadas, sem acesso às assistências médica, social e jurídica e sem qualquer oportunidade de estudo ou trabalho.
recorte racial e de classe segue evidente: mais de 60% da população prisional é formada por pessoas negras e jovens; 90% sequer completaram o ensino médio; cerca de 80% estão pres@s por acusação de crimes contra o patrimônio ou por pequeno tráfico de drogas.
Soma-se ainda o massacre contra as mulheres: nas filas de visita, a revista vexatória perdura, vergonhosamente, como prática estatal para penalizar e humilhar familiares que viajam longas distâncias para visitar o ente querido preso; no sistema prisional feminino, a população cresce em proporções ainda maiores do que entre os homens, com clara criminalização patriarcal da maternidade e da ocupação do espaço público por mulheres.
implosão 08/10/2002

Fora dos presídios, os massacres se multiplicam pelas quebradas e periferias.
Só para ficar entre os mais notórios, registramos a memória dos massacres ocorridos desde o massacre do Carandiru: Candelária e Vigário Geral (1993); Alto da Bondade (1994); Corumbiara e Nova Brasília (1995); Eldorado dos Carajás (1996); Morro do Turano, São Gonçalo e da Favela Naval (1997); Alhandra e Maracanã (1998); Cavalaria e Vila Prudente (1999); Jacareí (2000); Caraguatatuba (2001); Castelinho, Jd. Presidente Dutra e Urso Branco (2002); Amarelinho, Via Show e Borel (2003); Unaí, Caju, Praça da Sé e Felisburgo (2004); Baixada Fluminense (2005); Crimes de Maio (2006); Complexo do Alemão (2007); Morro da Providência (2008); Canabrava (2009); Vitória da Conquista e os Crimes de Abril na Baixada Santista (2010); Praia Grande (2011); Massacre do Pinheirinho, de Saramandaia, da Aldeia Teles Pires, os Crimes de junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro (2012), Chacina do Jardim Rosana, Repressão à Revolta da Catraca, Vila Funerária, Chacina da Maré, Itacaré, Viaduto José Alencar em BH, Itapevi (2013)…
Conforme Mapa da Violência (2012), no Brasil, entre 2002 e 2010, o número de homicídios de brancos caiu 25,5% ao passo que o de negros aumentou 29,8%. A cada 10 jovens assassinados no Brasil, 7 são negros!
Aos massacres reais somam-se os massacres estruturais: as mesmas periferias, quebradas e favelas alvejadas por balas, porretes e algemas são submetidas a um cotidiano de total descaso, em que falta tudo que é necessário para viver com um pingo de dignidade. Não tem moradia, não tem saneamento, a escola é precária, não tem posto de saúde, o transporte público é ruim e caro, faltam creches, não há opções públicas de lazer, e por aí vai. Quem ousa se organizar contra essas mazelas tem como resposta a violência policial e a criminalização.
Nesse dia, diante desse quadro de terror contra as camadas populares que se reproduz por toda nossa história, relembramos os no mínimo 111 que tombaram em 2 de outubro de 1992 e as tantas outras pessoas violentadas pelas classes dominantes por meio do Poder Público, e celebramos a resistência daquelas e daqueles que sobrevivem aos massacres cotidianos e ainda encontram forças para resistir, viver e lutar.
Em tempos de ascensão das lutas populares, afirmamos a presença daquelas e daqueles que não podem mais denunciar a violência do Estado porque tiveram suas vidas ceifadas, e o fazemos ao lado daquelas e daqueles que, igualmente, não podem denunciar os massacres cotidianos, mas que estão vivos e resistem: a população carcerária, esquecida e acuada diante de um sistema violento e letal.
A luta contra o Estado Penal-Militar é parte inseparável das lutas populares: é da união da luta daquelas e daqueles que sofrem na pele a violência imposta pelo Estado e pela burguesia com todas as demais lutas da classe trabalhadora que se firmarão as condições materiais necessárias para construirmos uma sociedade sem massacres, sem grades e sem explorações.
Por uma vida sem massacres, somos tod@s negr@s, pres@s, mulheres, indígenas, periféric@s, sem-teto, sem-terra, trabalhador@s!
Contra o Estado Penal-Militar, somos tod@s marginalizad@s!

seguem inúmeras assinaturas

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