quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Assembleia de Deus coleta assinaturas 
para criar partido 

A igreja da presidenciável Marina Silva (PSB) articula o seu próprio partido em 2015. De acordo com o coordenador do conselho político da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB), pastor Lélis Marinho, já estão sendo coletadas assinaturas por meio de um exército formado por 40 mil pastores e 100 mil locais de culto no país.
"Existe um pensamento em nos concentrarmos em um único partido, para que a nossa ação seja mais direcionada e eficaz. Como a lei eleitoral cria restrições para a migração de partido, as assinaturas para se criar uma nova sigla estão sendo providenciadas", diz. Atualmente há 22 deputados federais assembleanos e Marinho imagina que 30 serão eleitos impulsionados pelas duas candidaturas presidenciais de integrantes da Assembleia de Deus: a de Marina e a do Pastor Everaldo (PSC), que pertence a outra ramificação da confissão religiosa, o ministério de Madureira.


A reportagem é de César Felício, publicada pelo jornal Valor, 08-09-2014.

Marinho foi um dos responsáveis por um longo perfil dos quatro principais candidatos a presidente publicado na edição deste mês no jornal "Mensageiro da Paz", órgão oficial da igreja. O artigo tem o propósito específico de orientar o voto dos fiéis e deixa claro que só há uma orientação: combater a reeleição da presidente Dilma Rousseff, chamada de "ateia desde a juventude de guerrilheira comunista".
O artigo afirma que o governo de Dilma representa uma ameaça à religião. Atribui à presidente a defesa de "terríveis propostas", como o casamento entre homossexuais, a criminalização da homofobia, a regulamentação das situações legais de aborto na rede pública de saúde e a liberalização de drogas leves. A posição em relação a Marina, que pertence à Congregação da Assembleia de Deus do Plano Piloto, em Brasília, é de cautela: afirma que a candidata "tem trazido alegria por falar publicamente contra o preconceito aos evangélicos", mas adverte que Marina "muitas vezes é condescendente com grupos radicais de esquerda".
"Vejo a ascensão de Marina como um avanço. É uma possibilidade de diálogo com o governo dentro de outro ponto de vista, mas com ela ainda estamos estabelecendo um diálogo. É curioso, mas temos que buscar interlocução com uma de nossas seguidoras. Ela não assumiu compromissos", diz Marinho, que pondera: "A tendência do voto assembleano ir para ela é completamente natural. Somos a favor do Estado laico, mas um governante precisa ser alguém que tema a Deus. A falta de crença faz toda a diferença". No universo de prioridades políticas da Assembleia, a meta é frear projetos em tramitação no Congresso, e não aprovar novas propostas. Marinho não demonstra interesses em temas de natureza econômica. "Estas são questões que estão fora da nossa agenda", afirma.
Os deputados da Assembleia de Deus atualmente se dividem em 11 partidos. Sete estão no PSC, que lançou a candidatura de Everaldo à Presidência. Entre eles, Marcos Feliciano (SP), que se notabilizou por posições conservadoras extremistas. Ainda há três no PTB, dois no PR e dois no Pros. PMDB, PSB, PSDB, PDT, PRB e SD contam com um cada. O atual presidente da Frente Parlamentar Evangélica é Paulo Freire (PR-SP), filho do líder da Convenção Geral, pastor Wellington Bezerra. Sete parlamentares são da Região Norte, a mesma da acriana Marina.
A bancada assembleana flutua de acordo com o tamanho da bancada evangélica, que vinha em uma trajetória ascendente até uma queda abrupta nas eleições de 2006. Na eleição daquele ano, a bancada evangélica foi afetada pela repercussão do escândalo dos "sanguessugas", um esquema irregular de desvio de recursos públicos por meio da apresentação de emendas parlamentares ao Orçamento. Entre os 72 deputados envolvidos, os evangélicos eram 28. Nenhum se reelegeu na eleição daquele ano. "Aquilo atingiu indistintamente a todos os que tinham associação conosco, estivessem ou não envolvidos no caso", afirma Marinho.

Consagração de Marina gerou polêmica na Igreja

Marina Silva não representa uma novidade apenas no ambiente eleitoral. Dentro da Assembleia de Deus, a candidata presidencial faz parte de um processo que mostra as divisões internas dentro da Igreja. Em 2012, a ex-senadora foi consagrada missionária na congregação da igreja no Plano Piloto, pelo pastor Sóstenes Apolo.
Na cerimônia, em que Marina foi consagrada com diversas outras mulheres, Apolo, falecido este ano, deixou claro que em sua congregação as missionárias teriam o mesmo status de um pastor. A Convenção Geral das Assembleias de Deus não admite a ordenação de mulheres e a rebeldia da congregação do Plano Piloto deverá ser examinada em abril.
Na hierarquia da Assembleia de Deus, há cinco estágios: auxiliar, diácono, presbítero, evangelista e pastor. A função de "missionário" seria apenas uma honraria, sem qualquer responsabilidade específica, segundo a Convenção Geral.
Do ponto de vista prático, Marina não assumiu qualquer responsabilidade na congregação que frequenta além das que são cobradas dos fiéis: "comparecer, manter a rotina de estudo dos textos sagrados e observar os preceitos do Evangelho", conforme afirmou a assessoria de imprensa da candidata.
De cada dois evangélicos pentecostais no Brasil, um se declarava fiel à Assembleia de Deus no censo do IBGE de 2010. A multidão de 12,3 milhões de adeptos, entretanto, não tem a mesma força política de outras denominações, como a seis vezes menor Igreja Universal. A fragmentação de seu comando é a principal debilidade.
"Não existe uma, mas milhares de Assembleias de Deus. Não há como recenseá-las. Para o fiel, tanto faz. Ele entra em um templo e exerce sua fé do mesmo modo em qualquer delas, sem perceber se está seguindo a Convenção Geral, o Ministério de Madureira, à divisão comandada pelo pastor Silas Malafaia, entre tantas outras", diz o professor de sociologia Gamaliel Carreiro, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ele mesmo evangélico, autor da tese "Mercado Religioso Brasileiro: do monopólio à livre concorrência".
Na Assembleia de Deus, existem "ministérios", formados por 15 a 20 templos, ou "congregações", que se reúnem em convenções regionais, por sua vez agrupadas em convenções nacionais. A denominação, fundada no Brasil por dois pastores suecos em 1911, na Amazônia, se enraizou primeiro em regiões de população esparsa, em que o pastor ganhou autoridade absoluta.
À medida que a quantidade de fiéis cresceu e o envolvimento com a política tornou-se cada vez maior, as disputas de poder foram resolvidas com cismas em massa. O mais importante deles aconteceu em 1989, quando o ministério de Madureira, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, se retirou da convenção geral, liderados pelo pastor Manoel Ferreira. A nova convenção conseguiu a adesão de diversas congregações e seu tamanho hoje é estimado em cerca da metade da Convenção Geral.
Mas a dissidência de Ferreira, hoje candidato a suplente de senador na chapa do petista Geraldo Magela no Distrito Federal, está longe de ser a única. Em maio de 2010, o até então vice-presidente da Convenção Geral, Silas Malafaia, rompeu com o grupo para fundar a sua própria Assembleia de Deus, a Vitória em Cristo. "Hoje, graças a sua atuação na mídia, ele é o ramo da Assembleia de Deus que consegue mais repercussão", comenta o cientista político Franklin Rodrigues de Souza, da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, também evangélico.
Malafaia ganhou destaque nos últimos dias ao criticar a presidenciável Marina Silva na rede social Twitter logo após a divulgação do programa de governo da candidata, em que constava o apoio ao projeto de lei que criminaliza a homofobia. No dia seguinte, a campanha de Marina divulgou uma errata ao texto retirando o apoio à proposta.
Apesar de ter declarado voto para presidente no Pastor Everaldo (PSC), Malafaia festejou o recuo e frisou que a reviravolta da candidata foi obtida sem custo: escreveu na mesma rede que há quatro anos não se encontra com Marina.
"A estrutura dentro das Assembleias de Deus ganhou contornos coronelísticos", diz Carreiro, citando um caso que presenciou: há alguns anos o pastor que comandava o ministério do Guará, cidade satélite de Brasília, queria passar o poder para seu filho. Estava em jogo um patrimônio de cem templos, ou congregações. A Convenção Geral tentou interferir na transmissão e o pastor decidiu romper com a direção nacional da Igreja, criando mais uma Assembleia de Deus independente. "Trata-se uma confederação de caciques com uma frouxa teia de interesses em comum", afirma.
A estratégia para tentar conter o desmembramento permanente foi jurídico: a confederação tentou obter o registro de marca, para criar uma barreira legal ao uso do nome da igreja pelos dissidentes. O pedido foi negado.
Tal grau de divisão não existe em outras denominações evangélicas. A Igreja Universal tem como autoridade máxima o seu fundador Edir Macedo. Fora do pentecostalismo, a Igreja Presbiteriana divide-se em dois ramos, o Independente e o do Brasil. Embora com várias divisões, o ramo batista tem alto grau de concentração na Convenção Batista Brasileira e na Convenção Batista Nacional.

Cá com os meus botões... fundamentalismo religioso beirando doença mental. Dessa nem Jesus salva!

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