domingo, 27 de março de 2016

Ressuscitando...


Estava meditando nesta manhã de Páscoa. A minha fé começa a partir de um túmulo vazio. De um corpo ausente. Na história da maldade humana, sempre falta um corpo para fechar o saldo das vítimas. Na contabilidade da indústria da morte sempre falta um corpo. Pela falta de mais um corpo, ela, a morte, não consegue festejar sua vitória.
Páscoa é uma brecha que se abre para nós. Nosso espaço de revolta que vai além de tantas vidas matadas. A morte não vencerá para sempre, ainda que, por enquanto, pareça contar vantagens. Será mesmo?

Tanta maldade me faz duvidar da Páscoa. O crime organizado que passa da conta, os genocídios, a corrupção, as antigas e novas endemias, as multidões sem alimento, sem água, sem casa, o desemprego assustador, a política falida, a interminável lama vermelha que tudo arrasa, a ditadura do mercado. Como não duvidar, meu Deus?

Mas vejo, também, infinitas energias do bem. Mulheres e homens transmitindo vida e cuidando dela com carinhoso e divino cuidado. Vejo jovens ousados agentes de paz animando os mais fracos. Coerentes cidadãos de verdade dizendo não a qualquer usurpação da justiça e da democracia. Gente honesta a partir das pequenas coisas do dia a dia. Rostos iluminados e de olhos puros sem inconfessáveis intenções. Mulheres e homens que nasceram na madrugada pascoal, e que têm dentro de si a semente da Páscoa, o DNA do Ressuscitado.

Estou convencido que Jesus não é simplesmente o Ressuscitado. Ele é a própria Ressurreição, é a ação, a linfa inesgotável de um eterno ressurgir que ajuda a recomeçar tudo e sempre de novo. E será sempre assim, até chegar a impedir, definitivamente, que mais uma morte de seja lá quem for,  continue sendo a última palavra dos senhores da morte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário