sábado, 31 de março de 2018



Por ocasião da Sexta Feira da Paixão, centenas de fiéis de Igrejas Evangélicas se reuniram em oração, simultaneamente, em sete pontos estratégicos de Fortaleza, tendo como foco a superação da violência, principalmnte contra os homicídios de jovens e adolescentes na periferia da cidade. Ponto marcante foi a proclamação do Manifesto. Me senti privilegiado por estar sileciosamente presente. 

M A N I F E S T O  DO  POVO  DE  DEUS
Juntos por Fortaleza


"Somos pastores e líderes de um significativo segmento do povo de Deus em Fortaleza, sempre comprometidos com o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo de Nazaré. Nossas comunidades de fé estão marcadas pelos sinais do Reino de Deus, através da evangelização e de inúmeras obras de misericórdia, reconciliação, paz e luta pela justiça. Estamos presentes em todos os bairros de Fortaleza e em todos os municípios do Estado do Ceará, sendo que em alguns lugares periféricos e, em algumas regiões ribeirinhas do semiárido, somos a única representação religiosa presente. Conhecemos de perto os sonhos, as esperanças, os conflitos, as dores e as aflições de nossas famílias. Todavia, nos últimos dez anos, fomos invadidos por uma onda de violência nunca presenciada em nossas comunidades, gerando mortes, principalmente dos nossos adolescentes e jovens, além de milhares de famílias marcadas pelo luto. Reconhecemos as razões históricas, conjunturais e socioeconômicas, que originam a violência, bem como a brutal crise civilizatória e de valores pela qual passa a nossa sociedade. Nesse contexto, os cristãos não podem se eximir de sua responsabilidade, assumindo diante de Deus e da comunidade o seu papel profético e o exercício da sua cidadania plena.
Portanto, manifestamos:

O NOSSO ARREPENDIMENTO
Por percebermos a disseminação da cultura de violência em nosso meio. Mesmo que seguidores do Príncipe da Paz, constatamos sinais e atitudes de beligerância, truculência e arrogância em várias formas de linguagem, gestos e símbolos representantes da mesma cultura de violência que ora se espalha em nossa cidade. Sinais de violência física e psicoemocional contra mulheres e crianças sob a tirania do machismo, da ausência e da negligência dos valores do Reino de Jesus. Por não termos tido o discernimento suficiente e nos permitir ser utilizados como massa de manobra para fins eleitoreiros, violentando as opções individuais e a liberdade democrática das pessoas.
Como segmento evangélico, erramos quando não conseguimos demarcar a diferença entre as lideranças evangélicas íntegras e praticantes da boa ética, em contraposição às lideranças inescrupulosas que fazem das necessidades humanas e da ingenuidade das pessoas, uma oportunidade de lucro nos grandes “negócios da fé”. Neste caso, o nosso constrangimento se dá pelo fato de estarmos assumindo, sobre nós, os pecados das práticas de outros. ​Por fim, arrependemo-nos pelo malicioso uso da miséria do pobre como instrumento de projeção pessoal e institucional, ​prática usada por alguns segmentos que se confessam evangélicos.

A NOSSA INDIGNAÇÃO
Com a utilização que os Poderes Executivo e Legislativo fazem dos recursos públicos e com o aparelhamento do Estado, para fins eleitoreiros e para manutenção de pessoas e partidos, em seus projetos de poder, vaidade e enriquecimento ilícito, provocando silenciosa violência contra as populações mais carentes. Os recursos que, obrigatoriamente, deveriam ser utilizados para educação, programas de saúde, suplementação alimentar e habitação digna são desviados em proveito pessoal, alimentando a corrupção e contribuindo para a manutenção de um Estado inchado e inepto.
Repudiamos o silêncio dos profissionais de comunicação, acuados pela venalidade, ​sem perceber que também podem ser vítimas dessa violência.
Repudiamos a insensibilidade dos empresários, muitas vezes participando de licitações fraudulentas, negócios superfaturados, sendo coniventes com os desvios e a má aplicação dos recursos públicos, produzindo serviços precários e a total ausência de infraestrutura mínima para a população. Repudiamos a morosidade da justiça, que muitas vezes é célere para alguns e lenta para outros. Vivemos a iniquidade institucional exatamente no espaço onde a justiça e a equidade deveriam prevalecer. O que seria um último refúgio, a justiça é hoje a salvaguarda da impunidade. Clamamos por justiça e convocamos os operadores do direito para se engajarem na luta pela restauração do sistema judiciário.

O NOSSO COMPROMISSO
Continuar proclamando o Evangelho do Jesus Cristo de Nazaré, como o Caminho da salvação total e eterna dos seres humanos, com todos os seus sinais de amor, justiça, consolo, paz e alegria, na busca de restaurar vidas e as estruturas marcadas pelo ódio, pela violência, pela injustiça e pelos grilhões da morte. Destacar uma proclamação que inclui uma denúncia profética, especialmente às pessoas investidas de algum poder,quando na falta de suas obrigações, seja pela incompetência, omissão, suborno ou corrupção, ​matam mais que as guerras e se aliam aos delinquentes que se propõem a combater.
Manter a solidariedade com as famílias, principalmente com as mães e os pais que tiveram seus filhos e filhas ceifados precocemente pela violência. Manifestamos nossa solidariedade através dos nossos movimentos de intercessão e do pronto apoio social e jurídico.
Continuar trabalhando em defesa da garantia de direitos individuais e aplicação das políticas públicas, por meio da transformação de pessoas, pelo poder do  Evangelho do Jesus Cristo de Nazaré, alcançando todas as famílias com crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade; criando espaços e ambiência de reconciliação entre pessoas, famílias e grupos organizados em situação de conflito, para o estabelecimento da paz.
Fazemos do Evangelho Pascoal a nossa peregrinação de cruz e de ressurreição, de sacrifício e de bálsamo, de dor e de consolação, de pranto e de esperança, até que a justiça corra como um rio e o amor seja nossa vestimenta. E, antes que a plenitude do Reino de Deus se manifeste entre os seres humanos, possamos desfrutar de muitos sinais deste Reino em PAZCOA-CIDADE".

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