domingo, 26 de fevereiro de 2017


OLHAI AS AVES DO CÉU

Hoje, domingo 26/02 não estou ainda em condições de celebrar a santa Missa  e “pregar” a Palavra. Sinceramente, acho até bom, pois há tempo estou convencido que um pouco de jejum eucarístico, vez por outra, favorece o “apetite” e liberta do perigo de banalizar a Eucaristia.

Há poucas semanas fui agraciado com uma prótese no quadril e condenado por tempo indeterminado à prisão domiciliar trocando a tornozeleira eletrônica por duas muletas. E lá vou eu ensaiando pequenos passos enquanto nada me impede de dar asas ao espírito e meditar o Evangelho da liturgia de hoje (Mt 6,24-34)   que continua despertando velhas e sempre novas interrogações. Aliás, sempre achei saudável buscar no Evangelho nem tanto respostas quanto interrogações.

Foi assim que em 1995, junto à recém formada equipe do Instituto Nosso Chão, aceitei o desafio de passar longas horas no antigo lixão do Jangurussu , em Fortaleza, para deixar  ressoar a página do evangelista Mateus naquele cenário dantesco onde qualquer ficção estará bem longe da realidade.

“Olhai as aves do céu...”: convite ao fatalismo  à espera do Pai bondoso sempre pronto a dar de bandeja o que a vida não oferece? A Providência é um atributo incontestável só do Pai ou tem algo a ver com seus filhos?

 “Não vos preocupeis...”: o Pai já está por dentro de tudo? Ele está cuidando de você contanto que  você confie Nele? Pode até ser. Mas como dizer isso lá onde as aves do céu têm a graça cotidiana  de se alimentar daquilo que qualquer ser humano nem deveria triscar? Como repeti-lo em alto e bom som, lá onde não existe chance alguma de achar um trabalho digno para garantir um futuro também para os filhos?

O que o Filho do Homem deixou em aberto, muitos anos depois, o apóstolo Tiago tentou ensaiar com algumas respostas: “Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir e que lhes falta a comida de cada dia; se então algum de vós disser a eles: “Ide em paz, aquecei-vos” e “Comei à vontade”, sem lhes dar o necessário para o corpo, que adianta isso?”.

Data vênia os teólogos profissionais,  nada me impede de pensar que os tais de “atributos de Deus” só podem mostrar seu rosto se passarem também pelas nossas mãos.

A essas alturas, aproveito minha prisão domiciliar para postar o vídeo que, apesar dos ruídos das imagens marcadas pelo tempo, continua atual.





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